Para ficar

Portugueses voltam ao Brasil para fugir da crise

Na segunda metade do século 20, palestinos desembarcam no extremo sul do Estado

Após iniciar a colonização, o português retorna a Pelotas fugindo da crise. Nesse momento, fica mais forte o traço luso nos doces finos da cidade.

Na década de 1970, a Europa, bem como quase o mundo inteiro, vivia a maior crise financeira registrada desde a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Nos Estados Unidos, a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) despenca de 4,7% para 2,8%, enquanto a Grã Bretanha registra queda de 4,3% para 0,9%.

Em Portugal, o maior impacto se dá nos postos de trabalho: entre janeiro e dezembro de 1974, o desemprego sobe para o dobro dos anos anteriores, sendo as áreas de Lisboa, Porto e Setúbal as mais atingidas. Isto, diga-se, em um país historicamente pleno, tendo em vista a economia de guerra dos séculos anteriores. A crise capitalista, então, começa a causar conflitos sociais, com trabalhadores expulsando patrões de empresas sob o argumento de sabotagem econômica - atual, não? -, colaboração com o regime de ditadura que assolava Portugal e repressão.

O conjunto de fatores, então, faz retornar com força um movimento migratório que nunca deixou de acontecer em Pelotas: a vinda de portugueses, dessa vez em busca de paz e oportunidades, não necessariamente nessa ordem. Maria Alzira Rosa Carreira, 64, vem em 1963 com os pais, que por aqui já tinham familiares. O motivo, com o cenário acima apresentado, é simples e palpável: uma carta de chamada para trabalhar na já extinta Padaria Confiança.

A mãe, Emília da Silva, entretanto, nunca deixou de fazer doces, ao que há 18 anos montou uma das mais peculiares e tradicionais lojas de doces em Pelotas, a Delícias Portuguesas, cujo nome se justifica nos exemplos: toucinho do céu - bolo feito de açúcar com amêndoas, doce de gila e banha de porco; pastel de feijão - pequeno doce com amêndoas e feijão branco; beijinho de freira - dois biscoitos amanteigados com recheio de goiabada; entre outros. Hoje, Emília é uma das doceiras mais antigas em atividade em Pelotas.

Mais de meio século de Pelotas faz com que Maria Alzira hoje se considere pelotense da gema - sem nunca esquecer de onde veio, claro. “Fui educada aqui e nos adaptamos muito bem, mesmo com qualquer dificuldade no início. Sempre fomos muito respeitados”, diz, salientando a importância do Centro Português 1º de Dezembro no processo. A instituição foi fundada em 1926 a partir da união de duas entidades existentes à época: o Congresso Português de 1° de Dezembro e o Grêmio Republicano Português. Os objetivos, como de todos os clubes sociais de imigrantes, eram integrar os lusos que para cá vieram e manter viva a cultura e os costumes da Terrinha.

Além dos doces, a influência portuguesa pode ser vista em Pelotas em construções mais antigas, como as charqueadas São João e Santa Rita, o Casarão dos Mendonça e as casas chamadas de três fitas, na avenida Domingos de Almeida em frente ao Ginásio do Areal. Elemento do período neocolonial, os azulejos utilizados como ornamentação também são característicos dos lusos.

O Islã

Com a chegada dos palestinos, o município adere ao islã

Se a maioria dos imigrantes sírio-libaneses em Pelotas é cristã - seguidores da Igreja Siríaca Maronita de Antioquia, segundo Alceu Cheuiche -, o islã chega à cidade por volta da segunda metade do século 20 - através da vinda de palestinos que por aqui se radicam. Tendo como principal atividade o comércio.
De acordo com o professor e pesquisador Fábio Cerqueira, tal imigração tem início no Chuí por conta dos constantes conflitos que assolam a população da Palestina na Faixa de Gaza. “Após a criação da UFPel, muitos migraram para Pelotas com o objetivo de estudar”, conta.

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